Fraternidade e Ecologia Integral: a consciência de que “Tudo está interligado”.

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A Campanha da Fraternidade tem sua gênese na década de 60, tempos de mudanças significativas. Desde sua primeira atividade, em 1962, até os dias de hoje, a CF é uma ação de evangelização ampla, realizada no tempo da Quaresma na Igreja no Brasil[1]. A Campanha da Fraternidade contribui e estimula as pessoas de boa vontade, sobretudo, os cristãos, à uma espiritualidade encarnada, para que, diante de sua realidade concreta, encontrem sentido em sua vida e caminhada de fé. Nessa perspectiva, a CF nasce como expressão da solidariedade da Igreja em favor da dignidade da pessoa humana[2]. No ano de 2025, a Campanha da Fraternidade nos convoca para o tema, talvez mais desafiador de nosso tempo: Fraternidade Ecologia Integral. As causas ambientais são de caráter emergenciais. O tempo de agir é agora!

A Esperança celebrada por toda a Igreja em 2025[3], renova nossa atitude de teimosia que nos coloca em movimento de cuidado integral, da casa comum e das pessoas. A CF 2025 situa a questão da economia humana e suas implicações. Um antigo pensamento: o homem é a medida de todas as coisas (Protágoras), hoje já não se aplica. O Papa Francisco nos recorda que a realidade é superior a ideia[4]. E a realidade, segundo o relatório publicado em janeiro de 2025 pelo Intitute and Faculty of Actuaries (IFoA) da Exeter University (Reino Unido), sobre as mudanças climáticas e impactos sociais e econômicos, relata informações preocupantes, com previsões para as próximas décadas. O cenário é de temperaturas 3º acima dos níveis pré-industriais, a mortalidade humana poderá atingir a metade de toda a população do globo; vítimas de fome, seca, doenças infecciosas, desastres «naturais», e de conflitos[5]. O ecocídio eminente, por ação humana, no processo de superexploração em nome do progresso, do desenvolvimento vai extinguir da face da terra a mais bela criação de Deus: o ser humano (Gn 1, 31).

Fraternidade e ecologia integral é, também, a memória que a CF 2025 nos faz de ampliar nosso compromisso com a defesa da criação. No Brasil e no mundo, relevantes ações de transformação estão prontas a acontecer. A COP30, em Belém-PA, a primeira na Amazônia; celebraremos os 10 anos da Laudato Si’ e do REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazônica); os 800 anos do cântico das criaturas atribuído a Francisco de Assis, grande defensor da Casa Comum e a própria Campanha da Fraternidade. «Tudo está interligado.» Nesse espírito de compromisso vale a atenção ao texto-base da CF 2025:

A origem da crise socioambiental no mundo e no Brasil é complexa e tem muitas faces, envolvendo uma conjunção de fatores históricos, sociais, econômicos e políticos. O modelo de desenvolvimento capitalista, baseado na exploração dos patrimônios naturais, na queima de combustíveis fósseis, como os derivados do petróleo, na expansão desenfreada do consumo e na relação mercantilista com a natureza, tem contribuído para uma série de problemas ambientais, como a degradação do solo, o desmatamento, o extrativismo predatório, a poluição, a escassez de água, o comprometimento da biodiversidade com a extinção de algumas espécies e as mudanças climáticas[6]». Nunca, antes, estivemos numa situação de confronto definitivo como este, «não uma crise socioambiental, mas um colapso profundo de estruturas do planeta e de estruturas de governo e de governanças de toda a sociedade humana. É um colapso por sua irreversibilidade que coloca em risco a vida no planeta terra, nossa casa comum[7].

A Campanha da Fraternidade 2025 desperta nosso afeto para com o Planeta. A generosidade da terra encoraja o ser humano a ser generoso com toda a criação, da qual ele é parte integrante[8]. A realidade que atravessamos exige de nós uma conversão nova. O Papa Francisco em sua luta humanitária-ecológica (em suas Cartas Encíclicas e exortações) sempre nos convida a um olhar de baixo, fincados no chão da nossa história e a abrirmos os olhos para os nossos dramas que são bem reais e concretos. Uma conversão ecológica exige muito esforço e vontade de mudança, sair dos nossos comodismos e egoísmos. No entanto, se trabalharmos juntos, como irmãos e irmãs podemos realizar ações decisivas e propormos alternativas radicais que promovam vida ao invés de morte. Assim seja! Complemento este breve comentário com Rubem Alves: «Hoje não há razões para otimismo, hoje só é possível ter esperança. Esperança é o oposto de otimismo. Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração[9].» O tempo de agir é agora!

 

 

 

 

 

 

 

Fr. Jônata Schneider, C.Ss.R.

Referências

[1] cnbb.org.br acesso 20/02/2025, 21h 35

[1] CNBB, 2024, p. 15

[3] FRANCISCO, Papa. Spes non confundit: bula de proclamação do jubileu ordinário do ano 2025. 1ª ed. Paulus, 2024

[4] FRANCISCO, Papa. Evangelii Gaudium, a alegria do evangelho: sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. 1ª ed. Paulus, 2019. P. 128-130.

[5] actuaries.org.uk acesso 20/02/2025 às 22h

[6] CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Campanha da Fraternidade 2025: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2024. p. 25, n. 26.

[7] Moema Miranda, 10 de janeiro de 2021. 34º Curso de verão CESEEP: Cuidar da Casa Comum, por uma cidade sustentável.

[8] CNBB, 2024, p. 47-48, n. 74-76

[9] ALVES, Rubem. Ostra feliz não faz pérola. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008.